O que vem a ser teantropia? Esse termo foi cunhado para descrever ou definir a natureza dúplice de cristo Jesus, como sendo verdadeiro Deus (Theós=Deus) e verdadeiro homem (ánthropos= homem).
O que se pretende dizer aqui é que, à semelhança da natureza de Cristo, a Escritura também é, quanto à sua própria natureza, verdadeiramente teantróprica, isto é, um livro ao mesmo tempo humano e divino. Em outras palavras, a Escritura constitui-se na Palavra de Deus em linguagem condicionadamente humana.
Contudo, não obstante pareça óbvia essa constatação sobre a Bíblia, na prática, e mesmo na teoria, muitos abordam a Escritura de modo não condizente. Na verdade, duas abordagens ao mesmo tempo antagônicas e extremistas com respeito à Bíblia tem sido considerada em sua interpretação. Se por um lado os fundamentalistas lêem a Bíblia apenas como livro de Deus, ignorando seu contexto histórico formativo e suas configurações sócio-culturais originais, os liberais,por outro lado, a vêem como um livro meramente humano, apenas um testemunho da fé de civilizações antigas, a saber, judaísmo (AT) e cristianismo (NT), sem nenhuma função normativa ou qualquer condição sobrenatural.
Vale lembrar que ambas as posições são extremistas e reducionistas. Reducionistas porque reduzem a Bíblia ora a um oráculo divino “psicografado”, ora a um mero documento histórico. Concomitantemente, ambos os conceitos em relação à Escritura estão corretos e incorretos. Estão corretos quando tomados de modo mutuamente complementar, e incorretos ao se excluírem reciprocamente.
Ler a Bíblia apenas como produto humano é reduzi-la a um mero produto do meio, é ignorar sua mensagem salvífica e normativa para a humanidade; é descrer de sua origem divina e de todas as importantes implicações que resultam disso. Por outro lado, considera-la apenas como livro de Deus é conceber uma espécie de “docetismo”[1] que ignora os condicionamentos históricos, sociais, culturais, econômicos e religiosos através dos quais nasceu e se formou a Bíblia. Reconhecer a configuração histórico-social-humana das Escrituras não é, necessariamente, negar a sua Revelação, antes é entender que essa mesma revelação se deu através da comunicação, com todas as suas idiossincrasias contextuais, e das experiências dos homens. Como bem colocou o biblista Raymond Brown, é o “mistério do divino no humano”. [2] Assim como Cristo Jesus é a encarnação de Deus na terra, na história e no homem, a Bíblia é a encarnação da mensagem de Deus no homem, pelo homem, com o homem e para o homem. É uma expressão cabal da imanência de Deus no mundo.
Mas assim como o mistério da natureza humano-divina de Cristo foi mal compreendida, mal aplicada e debatida, assim é com respeito à origem humano-divina da Palavra de Deus. O problema da natureza de Cristo originou excessos e equívocos sem conta quanto a como se deveria conceber a pessoa de Jesus. Isso fica claro a partir das diversas heresias cristológicas, tais como o arianismo,docetismo,adocionismo,etc. Assim como fora difícil para os antigos cristãos compreenderem que Jesus era Deus e homem simultaneamente, assim é hoje em relação à natureza teantróprica da Escritura. Para muitos a melhor solução parece ser o extremismo, isto é, reduzir a Bíblia a um livro apenas divino ou apenas humano. O fato é que tais posições não são e nem devem ser excludentes. A Bíblia é um livro humano escrito dentro de contextos históricos e humanos, numa linguagem humana e a partir dos condicionamentos e experiências de seus autores. Como bem observou Eduardo Arens, a inspiração bíblica não consiste numa “espécie de poção mágica que protege o escritor sagrado de todo contágio histórico e cultural que pudesse distorcer o caráter absoluto dessa palavra de Deus”.[3] Aprouve a Deus se encarnar na história a fim de revelar sua mensagem de salvação aos homens. Ao mesmo tempo a Bíblia é um livro de Deus – não obstante seus condicionamentos histórico-sócio-antropológicos, a Escritura se impõe à humanidade através dos séculos como uma mensagem transformadora de Deus aos homens. Desde suas profecias cumpridas até sua fantástica unidade, a Escritura comprova ser, no mínimo, um livro sobrenatural e normativo.
Portanto, uma vez que a concepção que temos da Bíblia ditará nossas interpretações da mesma, precisamos, analogamente à Cristo, conceber a Bíblia como “verdadeiro Deus” e “verdadeiro homem”. Como exegeta não posso ser indiferente à configuração histórica original da Bíblia, isto é, sua humanidade; mas como crente também não posso ser insensível à sua mensagem salvífica, isto é, sua divindade.
Prof.Denes Izidro
[1] Versão do pensamento gnóstico que negava a encarnação de Cristo – Cristo parecia humano, mas era exclusivamente divino.
[2] Brown, Raymond E. As recentes descobertas e o mundo bíblico.Loyola:São Paulo.pg.11.
[3] Arens,Eduardo.Ásia menor nos tempos de paulo,lucas e joão.Paulus:São Paulo.pg.23.
O que se pretende dizer aqui é que, à semelhança da natureza de Cristo, a Escritura também é, quanto à sua própria natureza, verdadeiramente teantróprica, isto é, um livro ao mesmo tempo humano e divino. Em outras palavras, a Escritura constitui-se na Palavra de Deus em linguagem condicionadamente humana.
Contudo, não obstante pareça óbvia essa constatação sobre a Bíblia, na prática, e mesmo na teoria, muitos abordam a Escritura de modo não condizente. Na verdade, duas abordagens ao mesmo tempo antagônicas e extremistas com respeito à Bíblia tem sido considerada em sua interpretação. Se por um lado os fundamentalistas lêem a Bíblia apenas como livro de Deus, ignorando seu contexto histórico formativo e suas configurações sócio-culturais originais, os liberais,por outro lado, a vêem como um livro meramente humano, apenas um testemunho da fé de civilizações antigas, a saber, judaísmo (AT) e cristianismo (NT), sem nenhuma função normativa ou qualquer condição sobrenatural.
Vale lembrar que ambas as posições são extremistas e reducionistas. Reducionistas porque reduzem a Bíblia ora a um oráculo divino “psicografado”, ora a um mero documento histórico. Concomitantemente, ambos os conceitos em relação à Escritura estão corretos e incorretos. Estão corretos quando tomados de modo mutuamente complementar, e incorretos ao se excluírem reciprocamente.
Ler a Bíblia apenas como produto humano é reduzi-la a um mero produto do meio, é ignorar sua mensagem salvífica e normativa para a humanidade; é descrer de sua origem divina e de todas as importantes implicações que resultam disso. Por outro lado, considera-la apenas como livro de Deus é conceber uma espécie de “docetismo”[1] que ignora os condicionamentos históricos, sociais, culturais, econômicos e religiosos através dos quais nasceu e se formou a Bíblia. Reconhecer a configuração histórico-social-humana das Escrituras não é, necessariamente, negar a sua Revelação, antes é entender que essa mesma revelação se deu através da comunicação, com todas as suas idiossincrasias contextuais, e das experiências dos homens. Como bem colocou o biblista Raymond Brown, é o “mistério do divino no humano”. [2] Assim como Cristo Jesus é a encarnação de Deus na terra, na história e no homem, a Bíblia é a encarnação da mensagem de Deus no homem, pelo homem, com o homem e para o homem. É uma expressão cabal da imanência de Deus no mundo.
Mas assim como o mistério da natureza humano-divina de Cristo foi mal compreendida, mal aplicada e debatida, assim é com respeito à origem humano-divina da Palavra de Deus. O problema da natureza de Cristo originou excessos e equívocos sem conta quanto a como se deveria conceber a pessoa de Jesus. Isso fica claro a partir das diversas heresias cristológicas, tais como o arianismo,docetismo,adocionismo,etc. Assim como fora difícil para os antigos cristãos compreenderem que Jesus era Deus e homem simultaneamente, assim é hoje em relação à natureza teantróprica da Escritura. Para muitos a melhor solução parece ser o extremismo, isto é, reduzir a Bíblia a um livro apenas divino ou apenas humano. O fato é que tais posições não são e nem devem ser excludentes. A Bíblia é um livro humano escrito dentro de contextos históricos e humanos, numa linguagem humana e a partir dos condicionamentos e experiências de seus autores. Como bem observou Eduardo Arens, a inspiração bíblica não consiste numa “espécie de poção mágica que protege o escritor sagrado de todo contágio histórico e cultural que pudesse distorcer o caráter absoluto dessa palavra de Deus”.[3] Aprouve a Deus se encarnar na história a fim de revelar sua mensagem de salvação aos homens. Ao mesmo tempo a Bíblia é um livro de Deus – não obstante seus condicionamentos histórico-sócio-antropológicos, a Escritura se impõe à humanidade através dos séculos como uma mensagem transformadora de Deus aos homens. Desde suas profecias cumpridas até sua fantástica unidade, a Escritura comprova ser, no mínimo, um livro sobrenatural e normativo.
Portanto, uma vez que a concepção que temos da Bíblia ditará nossas interpretações da mesma, precisamos, analogamente à Cristo, conceber a Bíblia como “verdadeiro Deus” e “verdadeiro homem”. Como exegeta não posso ser indiferente à configuração histórica original da Bíblia, isto é, sua humanidade; mas como crente também não posso ser insensível à sua mensagem salvífica, isto é, sua divindade.
Prof.Denes Izidro
[1] Versão do pensamento gnóstico que negava a encarnação de Cristo – Cristo parecia humano, mas era exclusivamente divino.
[2] Brown, Raymond E. As recentes descobertas e o mundo bíblico.Loyola:São Paulo.pg.11.
[3] Arens,Eduardo.Ásia menor nos tempos de paulo,lucas e joão.Paulus:São Paulo.pg.23.